Sim, nós temos um passado

passado Por mais que você, que lê este texto, seja meu amigo ou conviva comigo diariamente, certamente não sei tudo sobre sua vida. Tenho certeza que, em uma hora de conversa, vou me surpreender com algo que você já fez, disse ou viveu. Ninguém tem a obrigação de saber tudo sobre o outro, claro. Aliás, nem deve. Mas todos deveríamos partir do pressuposto de que, não importa qual seja, o passado alheio deve ser respeitado tanto quanto seu presente.

Exatamente por isso, julgar alguém pelo que ele parece ser é simplesmente negar que ele tenha um passado. Que tenha feito coisas das quais se arrependa, mas que tenham lhe ensinado muito. Que tenha participado de tantas outras das quais se orgulhe, mas que não sai contando por aí pra não parecer metido.

Até o mais quieto, santo e calado dos seres também tem um passado. Quem duvida que aquela piriguete que você tanto esnoba no escritório não tenha sido a primeira bailarina de um teatro municipal importante ou tenha ganhado um prêmio na faculdade pela descoberta de uma fórmula inédita de química? Você apostaria que aquele menino tímido e educado que te faz suspirar não tenha nas costas um processo por agressão ou tenha traficado drogas no bairro onde morava?

Não dá pra saber. Também não é preciso sair por aí vasculhando a vida de todo mundo nas redes sociais ou nas páginas policiais. Basta considerar que todo mundo tem um passado que não deve ser menosprezado. Eu, por exemplo, posso até ter essa cara de quem nasceu ontem e não sabe nada da vida. Mas já fiz um bocado de coisas, importantes ou não, que muita gente nem sabe. Já toquei piano, joguei basquete, fiz Ginástica Rítimica Desportiva, teatro e canto coral, dei aula, cuidei de criança, fui modelo, dancei salsa e fiz um filme sobre forró pé-de-serra. Fora o tanto que já fiz nos oito anos que já tenho de Jornalismo (contando a faculdade) e prefiro não ficar destacando.

Não escrevo este texto pra que me reverenciem, não. Só quero ressaltar que, justamente por eu ter um passado, mesmo bobo, não aceito que me tratem como se eu tivesse chegado ao mundo ontem de manhã. Seja lá qual for a minha aparência, o meu nível de insegurança e confusão, peço que me vejam como alguém com uma bagagem nas costas. Uma viajante que já andou muito por aí – pelo menos no sentido figurado – para chegar exatamente aqui, no momento em que redije estas linhas.

A próxima vez que você olhar pra mim ou pra qualquer pessoa que cruzar seu caminho, pense antes de julgar. Lembre-se de que todos têm muito a ensinar uns aos outros, por mais desprezíveis que pareçam (o que, na minha opinião, nunca devem ser). O passado é uma das coisas que nós nunca podemos apagar. Então, por que não torná-lo nosso aliado? Ninguém pode ser condenado eternamente por seu passado, mas também não precisa ser julgado hoje sem que seu ontem seja levado em consideração…

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