Hoje: Dez anos depois

Esta semana completei 26 anos. Há tempo vinha pensando muito em quão significativa seria essa idade e agora ela chegou. E veio me mostrar que não estou mais no meio do caminho. Porque deixei de ser uma jovem de 20 e poucos anos pra me tornar uma adulta de quase 30. E isso me assusta um pouco.

Ter 26 anos é poder dizer “dez anos atrás eu pensava assim, fazia assado”. É que dez anos atrás eu já era gente, já podia votar, já sabia mais ou menos o que queria (mais ou menos porque talvez eu não saiba até hoje). Dez anos atrás eu fazia planos e imaginava como seria minha vida dez anos depois, ou seja, hoje. E ela está tão diferente…

Dez anos atrás eu tinha o mundo e o tempo em minhas mãos. Nada parecia limitado, previsível. Eu era (mais) ingênua, queria abraçar o mundo e todas as pessoas que estavam nele. Queria todo mundo por perto, sempre, o tempo todo. Chorava de saudade dos amigos que eu não via há umas semanas, ligava pra eles só pra reclamar do sumiço. Eles eram a coisa mais importante da minha vida porque foi exatamente naquele época que eu aprendi a fazer amigos.

Eu acho que era mais espiritualizada também, tinha tempo pra me dedicar a trabalhos voluntários, leituras edificantes, estudos religiosos. E, ao mesmo tempo, era mais arrogante, talvez. Achava que as pessoas estavam erradas por pensarem diferente de mim, me irritava ou chorava ao ver alguém fazendo o que eu achava ser errado.

Dez anos atrás eu ainda não tinha certeza de qual profissão seguiria, mas tinha minha vida pessoal traçada na cabeça como um roteiro de cinema. Aos 22 anos estaria formada, namorando sério. Aos 24 ia me casar com o amor da minha vida e seria uma daquelas mulheres independentes e lindas que saem do carro novo de óculos escuros e salto alto, com toda a pinta de poder – inspirada em uma cena de propaganda de perfume.

Aos 25 seria mãe. Esse era o único plano de que não abriria mão – se não houvesse namorado, noivo ou marido por perto, seria mãe assim mesmo. E pronto.

Dez anos depois faço as contas e percebo: meu Deus, como eu não tinha noção aos 16! Só hoje eu sei que não consigo abraçar o mundo e as pessoas todas, que não posso segurar as pessoas perto de mim pra sempre, que os amigos vão e vêm e a minha mania de querer ser amiga da humanidade não vai vingar.

Hoje fico meses, anos sem ver uma gente querida que nem sei se posso chamar de amiga, mas está lá, na lista de gente querida. E não preciso mais falar com os amigos todo dia pra saber que eles me amam à distância.

Hoje tenho mais dificuldade de me ligar com Deus, porque descobri uma dezena de defeitos em mim que me mostram como ainda estou arraigada ao mundo material. Tenho vergonha, acho. Ao mesmo tempo ganhei uma consciência bem maior do que Ele representa e de como pode estar comigo mesmo um pouco distante.

Hoje me sinto mais cansada e com menos forças pra mudar o mundo – talvez por ter percebido que mudar não é tão fácil nem mesmo pra mim. E não tenho mais a pretensão de corrigir as pessoas, até porque sei bem que minha verdade não é a mais verdadeira de todas. Se brincar, nem verdade é. Até descobri que muitas das minhas verdades eram mentira e me peguei fazendo o que eu achava ser errado antes…

Já tenho uma profissão, formada há mais de três anos. Mas isso não significa que eu tenha absoluta certeza do que quero. Ainda sinto que posso dar uma guinada qualquer dia desses e ir, sei lá, vender flores na beira da praia. Tá, essa imagem definitivamente não combina comigo. Mas bem posso começar a dar aulas, como queria quando criança.

Não sou a garota da propaganda de perfume, transmito zero poder e não uso salto. Não tenho namorado, noivo e muito menos marido. Não passei nem perto disso. E assim acabei frustrando as expectativas que muita gente tinha sobre mim também. A boa e recatada moça que casaria cedo simplesmente virou uma mulher ainda meio ingênua e sozinha que mal sabe o que quer. Mas que tomou coragem, foi morar longe da família, sofreu, aprendeu e voltou.

Aliás, falando assim é que me dei conta: sou uma mulher. JÁ sou uma mulher. Essa palavra me faz suspirar e olhar pra trás. Dá um orgulhinho bom de ter vivido tanta coisa, aprendido tanto, desmistificado sonhos e ilusões, ganhado força, perdido medos. Dá uma vontade de encher o peito e olhar por cima dos ombros pra dizer: viu? Eu consegui.

E quanto àquele plano do qual eu não abriria mão… Bem, a vida tinha um plano diferente pra mim.

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Músicas perfeitas para o assunto. boas de se ouvir 300 vezes e refletir:

A Lista – Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais…

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar…

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

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Tempo Perdido – Legião Urbana

Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo…

Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder…

Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo
E tão sério
E Selvagem! Selvagem!
Selvagem!…

Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos…

Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo…

Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens…

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Não vou me Adaptar – Nando Reis

Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia
Eu não encho mais a casa de alegria
Os anos se passaram enquanto eu dormia
E quem eu queria bem me esquecia

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar (3x)

Eu não tenho mais a cara que eu tinha
No espelho essa cara já não é minha
É que quando eu me toquei achei tão estranho
A minha barba estava deste tamanho

Será que eu falei o que ninguém ouvia?
Será que eu escutei o que ninguém dizia?
Eu não vou me adaptar, me adaptar
Não vou me adaptar!
Me adaptar!

Um pensamento sobre “Hoje: Dez anos depois

  1. Não que eu não tenha gostado das outras, mas essa foi uma ótima seleção musical para esse post. Que foi o que me fez dar por conta que sou um péssimo amigo (ou ao menos distraído e levemente desmemoriado) e esqueci do seu aniversário. Engraçado que conforme o dia vai chegando eu lembro (finalzinho de março), mas ai começo uma confusão (dia 9 ou dia 10? ou seria 09/10?) e ai entra uma hora extra, duas, outro aniversário e um amigo vira vocalista de banda cover (que vc ainda não deu conta de ir ver, nem conhece a banda original tb) … e eu esqueço.
    Mas espero que tenham sidos ótimos dias (de 09 a 15 dá um bom tempo de comemorações hehehe) e lhe desejo mais felicidades (nem que através de epifanias), amores (acredite, eles existem), saúde e paz (o segredo é basicamente lembrar de respirar).

    Grande Abraço

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